domingo, 19 de setembro de 2010

21 horas (Autoria: Takê Zocratto)

Andando por aí, com ar de quem não estava muito satisfeita com o rumo que sua vida tomava, Valentina pacientemente observava e memorizava com detalhes todas as sensações que sentia ao ver o cara que todos os dias passava em frente a porta da faculdade exatamente ás 21 horas e nem um minuto a mais. Passava os primeiros tempos da aula contando anciosamente os minutos para que ele passasse por lá. Ele era a alegria dos dias de Valentina mesmo que ela não soubesse de onde vinha, quem era, o que fazia da vida... não existia nada melhor para ela do que observar seu andar quase sempre apressado, e sentir o cheiro de seu perfume misturado com a fumaça de seu cigarro.
Um dia de tanto pensar naquela face cuja não imaginara o nome de seu dono, Valentina desejou muito que ele lhe dissesse algo. Parece que Deus ouviu os desejos ocultos daquela garota de 20 e poucos anos e quando menos esperava escuta um "OI" bem baixinho. Ela se virou para olhar quem interrompera sua leitura e se deparou com aquela face encantadora que a tirava o fôlego todos os dias ás 21 horas. Então um pouco assustada e com um sorriso estampado no rosto ela disse:
_Oi! Ainda não são 21:00, são?
_Hãn? Expressou o rapaz um pouco confuso.
Valentina com as bochechas coradinhas, fez cara de quem tinha falado algo desnecessário e disse:
_Ha! Desculpa, é que sempre vejo você passando por aqui nesse horário, então pensei que já fosse, e que eu tinha perdido os primeiros tempos da aula, mas não posso porque tenho prova hoje e se eu perdê-la...
_Calma! (Disse ele revirando os olhos.) Não precisa me dar tantas explicações.
Valentina sorriu e se apresentou:
_Eu sou Valentina. Você é?
_Hugo. Disse ele observando os olhos claros e brilhantes de entusiasmo daquela garota.
Naquele instante Valentina sentiu seu coração bater muito acelerado. Olhou no relógio e percebeu que já era hora do seu primeiro tempo. Então disse:
_Ah Hugo. Preciso entrar agora. Minha prova me espera. Desculpe.
_Tudo bem senhorita.
Valentina se levantou e deu um abraço em Hugo. Se virou e foi entrando na faculdade. O porteiro entregou a ela um pedacinho de papel. Nele estava o número do telefone de Hugo com um "convite":
_Estarei te esperando na saída da sua aula. Qualquer coisa me ligue. Um beijo.
Valentina entrou, fez sua prova e esperou desesperadamente o final da aula. Ao sair encontrou aquele par de olhos castanhos. Fechou seus olhos respirou fundo e foi ao encontro daquele que tirava seu sono. Hugo estava radiante, parecia estar vendo a mais bela paisagem passar em sua frente e Valentina sorria e suspirava ao sentir aquele perfume. Naquele instante trocaram um olhar que parecia penetrar no fundo de seus olhos.
Ela parecia não acreditar no que estava acontecendo, mas sim, era verdade. Parecia que se conheciam há anos. Foi quando Valentina perguntou:
_O que deu em você de deixar aquele bilhete com o porteiro?
_Eu passava aqui na porta todos os dias só pra te ver tomando sua latinha de coca-cola.
_Eu ficava aqui na porta todos os dias só pra te ver andar apressado e fumando seu cigarro.
Conversaram horas a fio, mas já era tarde e ela tinha de ir para casa.
_Hugo. Preciso ir agora. Amanhã tenho que acordar cedo e ...
Ele não deixou Valentina terminar de falar. Lhe deu um beijo e a levou para casa.
Chegando em casa ao se dar conta do que havia acontecido naquela noite,Valentina tinha certeza de que era ele que ela queria para chamar de seu pro resto da vida. Lembrou de que nunca mais haveria o cara das 21 horas, porque tinha plena certeza de que agora ele seria seu 24 horas por dia.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Tudo vai virar passado no futuro... (Autoria: Takê Zocratto)

E tudo que eu tinha, vejo escapar pelos meus dedos...
Eu sei que tudo na vida vai embora. Até a beleza de uma flor quando exposta ao tempo é consumida pelas agressões exteriores. Mas gostaria que algumas coisas fossem eternas, assim como lembranças de bons momentos. Aliás, até elas com o tempo acabam se apagando. Adoraria ter forças para aguentar esses tombos que a vida nos dá. Suportar a dor das perdas que tanto me ferem, deixar o tempo cicatrizar e seguir em frente.
Nas minhas vagas lembranças encontro amigos que se foram, lugares que não frequento mais, músicas que nunca mais ouvi, pessoas que nunca mais vi. Sinto um aperto no coração, um gosto amargo na boca e uma pontinha de dor me faz sentir vontade de desmanchar em lágrimas. Eu simplesmente não acredito que tudo aquilo que existia em minha vida tenha se desmanchado sem que eu percebesse o que estava acontecendo. Como eu pude deixar que isso acontecesse? A culpa foi minha ou nós mudamos tanto que nem percebemos a direção que os caminhos tomaram ?
Perguntas que eu jamais encontrarei respostas. De tantos amigos, poucos me restaram, e perdê-los seria talvez a pior coisa que pudesse acontecer nessa minha vida sem muitas novidades.
Sei que nada é eterno, mas existem coisas que não deviam ir embora nunca. Me perco em meio a fumaça de vários cigarros queimados, copos com resto de vodka, e fotos antigas de momentos que eu não vou me esquecer. Percebo que era feliz sem precisar de muito e hoje necessito me apegar ao passado para ter uma pontinha de alegria estampada em minha face.